Carlos Pereira
Wabi Sabi

[12.11.2022 - 31.12.2022]
Galeria Câmara Escura

  • Texto: Carlos Pereira

    Nos últimos anos, o Extremo-Oriente tem estado muito presente nos projectos de viagens que tenho vindo a concretizar, e uma das consequências mais imediatas desse facto, foi o surgimento de um interesse e curiosidade crescentes, sobre os povos e as culturas dos países visitados.

    Foi assim que me cruzei com o Wabi Sabi. Wabi Sabi é um conceito estético e uma forma de estar na vida, que remonta ao século XV, está relacionado com o Zen Budismo, e que se centra na aceitação da imperfeição e da transitoriedade. Wabi, está directamente relacionado com as emoções geradas a partir da beleza da simplicidade. Sabi, refere-se à beleza profunda e tranquila que decorre da passagem do tempo sobre pessoas e coisas. É uma beleza que nos transporta, a cada momento, para o ciclo natural da vida.

    Apesar de ser algo que as pessoas sempre conheceram, existe uma enorme dificuldade na verbalização do conceito, talvez devido ao facto de ser “algo que está subjacente à psicologia do povo japonês”; o Wabi Sabi vive, ao mesmo tempo, no limiar da consciência e do coração de cada pessoa.

    O Wabi Sabi é um estado de alma!

    Este conceito está intrinsecamente ligado a um tipo de beleza que nos remete para a transitoriedade da Vida, mas mais do que uma forma de olhar para a beleza de todas as coisas, é o impacto que essa beleza tem em cada um de nós, e a nossa reacção individual a essa mesma beleza que, verdadeiramente, constitui a essência do Wabi Sabi.

    É uma forma de estar, viver e sentir a Vida, que tem por base três ideias essenciais: Ver e vivenciar o mundo com o coração, altera profundamente a forma como o sentimos; A simplicidade comporta beleza, tranquilidade e conforto; Todos os Seres e todas as coisas, são incompletas, imperfeitas e impermanentes.

    Esta descoberta rapidamente se transformou num desafio, o de olhar o mundo que nos rodeia à procura de beleza nas coisas simples e imperfeitas, adoptando uma atitude de despojamento e desapego face aos paradigmas ocidentais de modernidade, consumo e busca da perfeição que nos são incutidos a cada momento.

    Como referencial estético, estimulou uma abordagem ao processo criativo tendo por base ideais de beleza bastante distintos dos padrões contemporâneos, contribuindo assim para a promoção de novas gramáticas visuais.

    É a partir deste contexto, em que apenas se abordam algumas das camadas mais superficiais do conceito, cujos ensinamentos remontam a muitos séculos atrás, que me propus ensaiar uma abordagem à interpretação e representação imagética de alguns dos pilares sobre os quais assentam os princípios do Wabi Sabi.

    “As coisas wabi-sabi não precisam da garantia de status ou da validação da cultura de mercado. Não precisam de documentação de proveniência. Wabi-sabi-ness de forma alguma depende do conhecimento do background ou personalidade do criador. Na verdade, é melhor que o criador seja indistinto, invisível ou anónimo”.—Leonard Koren

  • Carlos Pereira Torres Vedras, 1958

    Formação em fotografia em Lisboa, Bruxelas e Santa Fé, Novo México. Formador de Composição no Instituto Português de Fotografia.

    Exposições: Preto & Branco (Torres Vedras, 2016); paintographic memories (Porto, 2012); Exposición Fotográfica Solidária (Santiago de Querétaro, 2012); Fotógrafos Portugueses, colectiva (Bruxelas, 2012); por onde passo, deixo um pouco de mim (Lisboa, 2011); Dunas (Torres Vedras, 2009).

Coleção do acervo Cooperativa Comunicação Cultura
Entidades paralelas

[29.10.2022 - 31.12.2022]
Galeria Câmara Clara

  • "Entidades Paralelas", destaca a felicidade de momentos, espaços e traços vividos. Uma compilação repleta de carga histórica e carisma, que simboliza a sociedade e a comunicação representadas no respectivo espaço de tempo. Pois foi esse o espírito que pretendemos trazer para a exposição que assinala os 43 anos de história da Cooperativa de Comunicação e Cultura, através da arte da fotografia documental, do livro e da pintura.
    Nas obras doadas ao longo destas mesmas décadas, observa-se um certo otimismo ou até mesmo um ambiente de paz, que nos leva a uma viagem no tempo passando por sensações positivas (no fundo, o que a maior parte de nós ambiciona vivenciar nos aniversários).
    Num sentido de liberdade e perspectiva, convidamo-lo a percorrer o espaço, que oferece uma série de encontros inesperados. Obras mais antigas ou mais recentes partilham a mesma sala, misturando-se. Desta forma, as veteranas peças ganham uma nova vida e acabam por fazer parte da vida de hoje.
    A modesta coleção, vinda do acervo, admite-se ser algo que não está visível aos olhos do espetador mas é algo que acaba por estar presente no quotidiano de cada um.

    A Cooperativa sabe que jamais poderá ousar ser o sagrado depósito da arte, antes um ponto de intersecção de pessoas, gestos e vozes, e unicentro de irradiação de factos, nomes e mundos.

  • Curadoria
    Raquel Agostinho Pedro Rebocho

    Texto
    Raquel Agostinho

    Design gráfico
    Pedro Rebocho

    Agradecimentos
    Luís Sérgio e Ricardo Zambujo (Ferragens Bacalhau)

    Apoio:
    Câmara Municipal de Torres Vedras

Paulo Catrica
La ricerca di un titolo (1983-2013)

[12.09.2022 - 05.11.2022]
Galeria Câmara Escura

  • Inventámos as imagens para viver nelas além do pouco tempo que vivemos

    Como resíduos de uma dupla arqueologia, do assunto fotografado e da tecnologia analógica, estas fotografias pretendem operar como uma elipse imperfeita de Roma. Um campo aberto de tracce e racconti, de memórias parcelares, individuais e colectivas, que contrariam a hipótese de reconstrução de um todo. As fotografias e a sua exposição resultam de múltiplos acasos, de reencontros inesperados com textos, livros e filmes. A sua montagem no formato expositivo tem na sus génese um ensaio de Freud, que evoca a metáfora da cidade histórica enquanto palimpsesto, estabelecendo a analogia entre a destruição do tecido urbano e os traumas humanos.

    Resultado de duas viagens a Roma, em Março de 1983 e Dezembro 2013, estes snapshots a partir de filme analógico negativo côr de 35mm tinham como destino provável a obscuridade do arquivo. O seu resgate aconteceu algures em 2018, quando pela mão do meu amigo Sebastiano Raimodo, os negativos voltaram a Itália, e desde então, num vai e vem entre Lisboa e Monticello-Mondonico, fui recebendo do Simone Cassetta picolli provini 10x 15 cms e impressões 19x28 cms em diferentes papéis fotográficos analógicos. A superfície dos papeis analógicos, os defeitos dos filmes fora de prazo de validade e as dominantes de côr foram decisivas para a decisão de expor estas fotografias.

    Um ensaio de Luigi Ghirri iluminou a hipótese de mostrar fotografias de Roma, um lugar intensamente representado :

    (...) todos os lugares foram sobrescritos, recontados e investigados a tal ponto que cada vez que os olhamos, parece impossível escapar de um sentimento de 'dejá vu' (...) pouco a pouco, vamos encontrando cantos escondidos, que paradoxalmente, juntamente com outros mais familiares, parecem misteriosamente estar cheios de novidades e detalhes imprevistos (...) Estes são o sinal de que nós, confiando em estereótipos, esquecemos o enorme poder de revelação que o nosso olhar pode reter, e que todas as nossas cidades provavelmente precisam ser lidas de novo com um olhar que 'restaura' todos os monumentos e estruturas que compõem o nosso habitat, e as cores que o determinam e definem (... )a tarefa é simplesmente rever e revisitar esses lugares que, à primeira vista, pareciam negar qualquer reinterpretação.

    A reversão da metáfora de Freud foi ganhando sentido, tendo as fotografias como ponto de partida, a reconstrução deste campo de fragmentos precipitou um duplo movimento, o de reler autores e de rever filmes que estavam adormecidos, tais como os negativos na gaveta do arquivo. E estes foram estimulando novas leituras.

    Entre os autores revisitados, citados e nomeados, a admiração intelectual e as afinidades ideológicas e políticas, por Leonardo Sciascia e Pier Paolo Pasolini, motivaram as escolhas dos breves racconti incluídos na montagem. A dificuldade na escolha de um título que evitasse um hipotético senso lógico, discursivo ou narrativo, encontrou refúgio nas palavras de Pasolini, deixando a reconstrução desta elipse imperfeita ao espectador:

    È lui che deve rimettere insieme i frammenti di un’opera dispersa e incompleta. È lui che deve ricongiungere passi lontani che però si integrano. È lui che deve organizzare i momenti contraddittori ricercandone la sostanziale unitarietà. È lui che deve eliminare le eventuali incoerenze (ossia ricerche o ipotesi abbandonate). È lui che deve sostituire le ripetizioni con le eventuali varianti (o altrimenti accepire le ripetizioni come delle appassionate anafore).

  • Paulo Catrica (Lisboa, 1965)

    Estudos de fotografia na Ar.Co., Lisboa (1985); Licenciatura em História, Universidade Lusíada, Lisboa (1992); Mestrado em Imagem e Comunicação, Goldsmith’s College, Londres (1997); Doutoramento em Estudos de Fotografia, Univer- sidade de Westminster, Londres (2011). Investigador do Instituto de História Contemporânea, Universidade Nova de Lisboa.

    Expõe e publica regularmente desde 1997. Das exposições recentes (selecção): Fussball ißt unser Leben, Kunsthaus Interlaken (Suiça, 2022); Madonie Paesaggi 1973-2021 (Petralia Sottana, Sicília, 2022); O sítio em Vista, CEFT (Tomar, 2021); Almada, Um Território em Seis Ecologias, Museu da Cidade (Almada, 2020); Prospectus, Carpintar- ias de São Lázaro (Lisboa, 2020); O desvio que fez a curva do rio, Galeria do Parque (V.N.Barquinha. 2019); Grübler, Casa das Artes (Tavira, 2017); El Solitario Jorge, seiscien- tos veinte y dos días antes de su muerte, Galeria Presença (Porto, 2016).

    Monografias: O desvio que fez a curva do rio (2019), Memorator (2015), Mode d’emploi (2014), TNSC (2011), Liceus (2005).

Diogo Gonçalves
Start. Do. Repeat

[25.06.2022 - 31.07.2022]
Galeria Câmara Escura

  • Texto por: Not A Human Collective

    O ser humano assimila o seu lado somático e o seu lado psíquico logo no começo da sua formação. O corpo interage com o ambiente, a matéria nasce-lhe nas mãos. A psique fica consciente do objeto, conhece a sua função.

    O tato, destacado sentido como o mais habilidoso dos cinco, parte à descoberta do espaço, medindo o cheio e o vazio, enchendo a natureza de forças misteriosas. A mão, instintiva, faz. Aprende onde mora o peso, sente a textura, age na luz e enfrenta o desconhecido.

    O ego acorda. O mundo acontece.

    Até que, a automatização do gesto, prosseguindo para a segurança de um sistema quase irracional, torna este ser refém do crescer no mundo. Agindo como o seu educador, este é o sentido que repete e distingue o humano no espaço e no tempo.

    Do artista Diogo, o conjunto de peças enunciadas no espaço expositivo são uma ode ao gesto, tal ‘Elogio’ (Focillon, 1934), que se reparte entre ‘Beginning’, ‘Sem título’ e ‘Repetir o espaço’. Correspondendo a um período de produção entre 2020 e 2022, estes trabalhos refletem uma energia de transição do artista e do seu trabalho.

    O espectador é conduzido pelos os elementos que melhor caraterizam a prática artística de Diogo Gonçalves. A Camâra Escura, desdobrando uma memorável paisagem, é transformada num campo de investigação sobre os conceitos de corpo e de espaço, fazendo da performatividade da mão, como do observador, o mote da sua prática.

    O consistente uso da polaridade nas suas obras, elemento que simultaneamente encripta e descodifica conceitos de corporeidade e gesto, se por um lado regista um espaço negativo rasgado por sabres, invadido por linhas e dividido em planos energéticos, traz, pelo oposto, a anulação do vazio e a abertura de uma clareira percorrida pela mão do artista.

    Os seus mais recentes trabalhos, transpondo elementos do mundo físico para o mundo digital, repetindo-os, entram no campo da artificialidade para estudar a automatização e a trans-humanização do corpo e dos sentidos. Funcionando como módulos catalisadores, eles eternizam o gesto, tornando-o um valioso material nas suas composições.

  • Diogo Gonçalves (1990)
    Vive e trabalha em Lisboa. Licenciado em Artes Visuais e Multimédia - Variante Escultura pela Universidade de Évora (2010/2014). Mestrado em Estudos de Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (2014/2018).

    EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

    Untitled - Kunst Off Space Narrenkastle (2021) Graz, AT; Line Up In Space - Biblioteca Camões (2020) Lisboa, PT; Segmento Volátil - Museu de Lisboa Teatro Romano (2019) Lisboa, PT.

    EXPOSIÇÕES COLECTIVAS

    Mechanics of reality - Artemis Gallery (2022) Lisboa, PT; Electric Dreams - Artemis Gallery (2021) Lisboa, PT; Curating Obstacles - Serra da Arrábida (2021) Setúbal, PT; Lines of Thought - CICA Museum (2020) Coreia do Sul, SI; XI Bienal Internacional de Arte Jovem - Biblioteca Municipal Prof. Machado Vilela (2020) Vila Verde, PT; Quantos A4 cabem no Á-Quatro - Coletivo Tarimba (2020) Lisboa, PT; Tridimensionalidade Aparente - Galeria António Prates (2020) Lisboa, PT; Saturnalia - Museu de Lisboa Teatro Romano (2019) Lisboa, PT; 12x12 - Galeria Arte Graça (2019) Lisboa, PT; Saturnalia - Museu de Lisboa Teatro Romano (2019) Lisboa, PT; DU - Destination Unknown (2019) Weert, Nl; AIR4 - Ravnikar Gallery Space (2019) Ljubljana, Sl ; 12x12 - Galeria Arte Graça (2018) Lisboa, Pt; Periplos/Arte Portugués De Hoy - CAC Málaga (2016) Málaga, ES; FDUL Experience - Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (2015) Lisboa, PT; Pedreira dos Sons (2014) Viana do Alentejo, PT; Levantamento das pestes (2014) Évora, PT; Amieira Marina Art Fest - Alqueva (2013) Évora, PT; Uma simples Medida e um Gesto Arriscado - Universidade de Évora (2013) Évora, PT; Tempo e o Modo - Museu de Évora (2013) Évora, PT.

    PUBLICAÇÕES

    Electric Dreams - Artemis Art Gallery, PT; DU 2020 - Stichting Destination Unknown, NL; XI Bienal Internacional de Arte Jovem Vila Verde Município Vila Verde, PT; Tridimensionalidade Aparente - Galeria António Prates, PT; Segmento Volátil - Museu de Lisboa Teatro Romano - EGEAC, PT; Rearrangement of material - DU - Destination Unknown, NL; Portugal: Open Window to the World - Imago Mundi, Contemporary Artists from Portugal - Luciano Benetton Collection, ES.

    COLECÇÕES

    CICA Museum, KR; Fundação António Prates, PT; Fundação Calouste Gulbenkian, Pt; Fondazione Benetton Studi Ricerche, IT; CAC Modern Art Center, ES; Colecções privadas, PT, SI, AT, DE.

    RESIDÊNCIA

    Du (2019) Weert, NL.

Bernardo Ferreira
Harmless hybridity

[25.06.2022 - 31.07.2022]
Galeria Câmara Clara

  • Partindo do desnudamento dramático que é o Antropoceno na narrativa da história planetária, Harmless hybridity denuncia-nos um êxodo fictício, um capítulo narrativo consequente do começo da era da extinção da espécie humana. O Satélite Alóctone surge como destino, como planeta que é simultaneamente uma metáfora tomada como modelo para formas comuns de representar a noção de lugar na natureza.

    Nas obras da exposição, Bernardo Ferreira compilou dezenas de imagens captadas, maioritariamente através de iPhone, de elementos comuns, próximos, de tamanho reduzido, que se tornam vicários da perceção da sua escala e na decifração da representação final que lhes é conferida, através de manipulação digital, da expansão da escala e deformação dos mesmos. A sublimação das imagens em tecido têxtil apresenta-se como tipologia que hibridiza o medium fotográfico, em simultâneo com operações plásticas de objetificação que o expandem. Desta forma, as imagens polidas, enquanto reflexões sobre superfícies, funcionam de modo a poderem satisfazer as convenções do realismo artificial e social pretendido, não tendo sido inventadas para duplicar uma realidade criada por convencionalismos próximos.

    Harmless hybridity é o começo de uma viagem fictícia, solitária—composta por aberrações cromáticas extraídas de iluminação pública e do próprio satélite natural da Terra, através de uma lupa—para um satélite alóctone, amorfo, de composição gasosa, dando origem a um novo cenário de ficção científica constituído por um tríptico denunciador de três fases singulares do percurso, onde janelas-visores, sapatilhas-enzima, e vistas galácticas coabitam no mesmo objeto de realidade especulativa.

  • Bernardo Ferreira (1997)

    Natural de Torres Vedras, atualmente vive e trabalha em Lisboa. Concluiu a licenciatura em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa em 2019. Frequentou o curso breve de estética coordenado por José Carlos Pereira, na Appleton Square, entre 2017 e 2018. Em 2019 participou na organização do Festival Soma e integrou a sua exposição (FBAUL); colaborou com Constança Entrudo enquanto cenógrafo (All that is solid melts into air). Desde 2021 que participa em diversas palestras e seminários organizados pela Maumaus, que tiveram a coordenação de Sjoerd van Tuinen, Marcia Sá Cavalcante Schuback, Amanda Boetzkes, Lucia Pietroiusti e Ashish Ghadiali.

    O seu trabalho tem sido exposto desde 2018, onde se destacam as seguintes exposições: Finalistas Pintura 2018.19 & 2019.20, Sociedade Nacional de Belas-Artes (2021); Feeling Blue, Galeria Espaço Real (2019) Festival SOMA, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (2019); 1000056o Aniversário da Arte, CAPC, Coimbra (2019).

Jorge Alves
Claro Escuro

[07.05.2022 - 18.06.2022]
Galeria Câmara Escura

  • Expõem-se duas linguagens diferenciadas e de certa forma antagónicas, mas também com continuidade estruturante. No design, as soluções formais estabelecem-se como meios de comunicação dos conteúdos e das intencionalidades de projecto: são claros indicadores de comunicação dos modos de utilização, das funcionalidades e das políticas de validação social nele envolvidas. Por outro lado, as contradições surgidas num determinado contexto, originaram um processo reflexivo, introspectivo e sombrio com a necessidade de exteriorização dos sentimentos provocados pelas (in)cosncientes práticas de design então realizadas.Os objectos que assim surgem têm, por defeito, alguma continuidade formal com os antecedentes constituindo-se como outros meios de linguagem, (onde o fascínio pelas mecânicas dos meios reprodutivos adquire um papel relevante), mas em oposição aos processos comunicativos anteriores.

  • Professor na FBAUL de 1984 a 2018.
    Autoria em projectos de design industrial nas áreas de iluminação, mobiliário urbano, sistemas expositivos e museológicos entre outros.

    EXPOSIÇÕES DESIGN INDUSTRIAL (selecção)

    Projecto e Validação Social: O design de Jorge Alves. FBAUL, 2012 | Design Portugués. Fundação Carlos Amberes, Madrid, 2000 | Experimenta Design 99 — Departamento Cultura Generalitat Catalunya, 1999 | Design aus Portugal. Museum fur Kunsthandwerk, Frankfurt, 1998 | Disseny Actual Portugues. Barcelona, 1997 | Design como Desígnio. Casa da Cerca, 1999 | Design Lisboa 94 MID. CCB, Lisboa, 1994 | Design na Mala-posta com J. Pacheco e A. Ceia, 1992 | Trienal de Milão — Candeeiro ZERO para o pavilhão de Arquitectura Portuguesa, 1992 | Design Português MID, 1992 | Objectos de diseño. ICEP, Madrid, 1989 | Design para a cidade CPD. Serralves, 1989 | III Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian - 30 aniversário, 1986 | Design & Circunstâcia - APD, 1982

Manuela Marques
Témoi_

[07.05.2022 - 18.06.2022]
Galeria Câmara Clara

  • Témoi_ é um testemunho, de mim para ti. Provém do vocábulo francês témoin, desta feita sem “N” (de identidade nominal). Témoi_ é um exercício de escrever — viver — direito por linhas tortas. Um lugar de memória aberto para se desenhar o futuro, recordando o seu pretérito perfeito. Témoi_ apresenta uma cronologia (bio)gráfica, onde se pressupõe que a história continua.

  • Manuela Marques (1982) Lisboa, Portugal

    Termina em 2005 a Licenciatura em Educação – Prof. 1o e 2o ciclo – EVT, na ESELx. Paralelamente desenvolveu formação artística em teatro, dança e performance, salientando a Formação Intensiva Acompanhada no c.e.m. e o curso em Acting for Film na Metropolitan Film School sob a tutoria de David Tucker. Como intérprete (atriz) trabalhou com: Paula Sá Nogueira (Cão Solteiro), Ana Borralho & João Galante, Joana Craveiro (Teatro do Vestido), Maria Emília Correia, Miguel Moreira (Útero), Ricardo Gageiro, Sofia Neuparth (c.e.m.), Alexandre Lyra Leite (Inestética), Leonor Fonseca, Melissa Rodrigues e Os Burgueses. Artisticamente concebeu e apresentou as peças “Copo d’água” e “Reborn”.

    Entre 2010 e 2019 trabalhou como responsável de elenco, em projetos de ficção para a TVI e RTP, e passou ainda pelo departa- mento de Atores da Elite Lisbon, como booker. ma-da-faca surge, em 2015, como assinatura para redigir artigos/crítica de espetá- culos. Atualmente leciona EVT no ensino público e colabora, como cronista, com as revistas PARQ e Brotéria.

Eduardo Sousa Ribeiro
Small buildings and other things

[12.03.2022 - 29.05.2022]
Galeria Câmara Clara

  • Small buildings and other things, projecto fotográfico iniciado em 2018, desenvolve-se a partir de pequenas construções efémeras feitas de papelão encontradas pela cidade de Lisboa, construídas e habitadas por pessoas em situação de sem-abrigo. Pretende reflectir sobre determinadas incongruências que habitam a nossa realidade, sentimentos de perda, isolamento e solidão que cada um pode experienciar, quer por situações semelhantes a pessoas em situação de sem-abrigo, quer por sentimentos de estar exilado de si próprio. A presente exposição propõe uma abordagem fragmentada a um trabalho de natureza investigadora dentro da imagem, tendo como base objectos encontrados no espaço urbano e outros lugares dissonantes.

  • Eduardo Sousa Ribeiro (1963) Lisboa, Portugal

    Vive e trabalha em Lisboa. Em 1993 completou o Curso Avançado de Fotografia, Arte Contem- porânea e Projecto na escola de artes visuais Maumaus. Auto-publica fotolivros desde 2013. Menção honrosa para portfólio Urbanautica Institute Awards 2021. Vencedor do 1st Scopio International Photobook Contest 2014.

    Representado nas coleções:
    Aperture Foundation Library (Nova Iorque); Biblioteca de la Facultad de Bellas Artes, UCM (Madrid); Franklin Furnace (Nova Iorque); Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa); Fundação de Serralves (Porto); Instituto Moreira Salles (S. Paulo); The PhotoBookMuseum (Colónia).

    Exposições recentes (seleção)
    2022 By Invitation Only. Passevite, Lisboa.
    2021 Charta Festival. San Lorenzo, Roma.
    2020 The Maribor Photobook Award. UGM - Umetnostna Galerija Maribor, Eslovénia.
    2019 Territórios em Publicação. CEI - Centro de Estudos Ibéricos, Guarda. | This City Always Pursue You: A story told with photobooks, books and non-books. MUSAC, León. | BF18 - Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira, Celeiro da Patriarcal.

Pedro Gil Mendonça
Um e duplo

[12.03.2022 - 29.05.2022]
Galeria Câmara Escura

  • Pedro Gil Mendonça Depoimento do artista De título inspirado no trecho final do poema Ginkgo Biloba de Goethe, Um e Duplo explora a dualidade das coisas. Da Ginkgo Biloba que se estica até minha janela se inicia um diário de datas imprecisas, mas de afetos certeiros; uma construção poética de relações e elementos que, do natural e humano, construído e ressignificado, apresentam forças ora complementares, ora opostas, avessas e unificadas. Aqui as vivências são carregadas de um duplo sentido único. Como um fio condutor, essa noção vai se ampliando ao longo do projeto como galhos que se ramificam altos e distintos, mas que ainda se conectam ao centro, parte do todo. Os retratos não encaram a câmera, mas convidam a percorrer o olhar para o que está além. Uma subtil união entre paisagem e nós mesmos, entre céu e mar, entre estar aqui e estar lá. Um deslocamento não apenas geográfico, mas também uma busca contínua em torno da própria identidade que constitui o cerne do projeto. Uma casa só se torna um lar quando há pertencimento. *** Quando me mudei para meu atual apartamento, ele estava vazio; um móvel de TV, um armário embutido, utensílios que poderiam ter sido tanto esquecidos quanto abandonados, mas nada que fizesse desse novo lugar um lar. Do lado de fora, a árvore que espreitava minha janela estava igualmente vazia, sem folhas. Era fevereiro quando me mudei. Reparava como seus galhos se aproximavam do apartamento, mas somente com o peso das folhas ela conseguia estar ao meu alcance, se esticando a um braço de distância. À medida que novas folhas iam aparecendo, sua forma mudava com cada novo amanhecer. O exterior parecia inundar o interior,transportando ora suas cores, de um verde rico que pintava as paredes, ora com suas sombras, que dançavam todas as manhãs, uma silhueta envolta de uma aura dourada que tinha seu ápice, seu ritmo, e seu fim. Durante o confinamento, meus dias se passavam ao pé da janela, acompanhando o doce balanço de seus galhos ritmados e sonoros; quando ventava, toda sua força se revelava como mar revolto. Quando a brisa era calma, era como ondas gentis que chegam aos pés fincados na areia. De olhos fechados, o som do mar e das folhas pareciam iguais. De olhos abertos, é tudo uma coisa só. O verde gradualmente se transforma em amarelo, uma lâmpada acesa que aquece lentamente até iluminar todo branco de um amarelo acolhedor. À medida que suas folhas caíam, sua forma voltada a se revelar, seus galhos voltados para o céu; agora aquelas formas não eram mais estranhas, agora já não eram vazias.

  • Pedro Gil Mendonça (1990) Rio de Janeiro, Brasil

    Fotógrafo e artista brasileiro natural do Rio de Janeiro. Actualmente vive e trabalha em Lisboa.

    É formado em Fotografia pela Faculdade Cambury. Completou a Pós-graduação em Discursos da Fotografia Contemporânea pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

    Conta com exposições no Brasil e em Portugal. Na sua prática artística explora os conceitos de pertença e identidade.

João Januário
Densidade Vizinha

[15.01.2022 - 11.02.2022]
Galeria Câmara Clara

  • A viagem que percorremos pelos territórios que habitamos está delimitada por referentes visuais de carácter natural, artificial ou ambos. A linguagem fotográfica de carácter singular dissipa-se perante a multiplicidade do registo e das memórias criadas pelos Espectadores sobre o mesmo registo, tornando familiar o conteúdo vizinho de cada cena. Quando estas densidades ambíguas anteriormente ocupadas por esta espécime [das cicadáceas] se desvanecem, dão lugar às diligências da invisibilidade que preservam a existência do vazio humanamente observável.

Rafael Raposo Pires
Caminhar limites

[15.01.2022 - 11.02.2022]
Galeria Câmara Escura

  • A exposição 'Caminhar Limites’ apresenta dois projectos de arte multimédia de Rafael Raposo Pires. O mais recente trabalho ’There is more to Urban Limits than a Circular Road’ (2021) é um ensaio fotográfico produzido a partir de numerosas derivas pedestres feitas em torno de áreas urbanas na região da Úmbria, em Itália. O projecto 'Espaço | Marca’ (2019) procura reflectir sobre o acto de ocupação de terrenos e a sua subsequente marcação e parcelamento.