programa | exposições atuais

Toy Boy
Tronos Tombados Novos Colonos

12 janeiro—24 fevereiro 2024
Centro de Cultura Contemporânea 13

  • África como ponto de partida para a reflexão das várias fases da colonização dos povos do continente na busca do enquadramento socio-político das mesmas. A escravidão sempre foi parte do percurso histórico de África, em que africanos escravizaram africanos e onde a Europa durante séculos fez do continente e dos seus habitantes a sua fonte de receita. Com a abolição da escravatura, e consequentemente com o fim das colónias ocidentais em África, nascem as independências e transbordam as guerras civis no desentendimento entre facções políticas que ambicionavam o poder, coisa que ainda se vive nos dias de hoje em muitos países africanos. Daí a necessidade de reflexão em relação aos sistemas governamentais em África onde, nos dias de hoje, depois de séculos de história esclavagista, são os próprios africanos em cargos de poder que pilham os recursos das nações em seu benefício, deixando os povos a viverem em condições desumanas e sem os seus direitos respeitados. Não será esta também uma atitude colonial?

    Então nasce no imaginário do artista a ideia de que se os tronos dos reis e rainhas africanos com um conceito de governação onde a hierarquia de topo vivia para o benefício e desenvolvimento dos seus povos, não tivessem tombado no percurso da História existiria uma realidade diferente daquela em que vivemos nos dias de hoje, onde o opressor e colonizador é o preto para com o preto e a esperança dos povos e seus sonhos são acalcados a cada dia que nasce.

Guilherme Curado
From Gross Bodies Freed, Divinely Move

16 março—13 abril 2024
Centro de Cultura Contemporânea 13

  • “(...) from gross bodies freed, divinely move”, título retirado de um excerto da obra seminal de Cornelius Agrippa, The philosophy of natural magic, explora a intersecção entre humanidade, natureza e o etéreo e propõe através de um futuro pós-humano ficcionado, a criação de novas possibilidades de encontro e a dissolução das fronteiras entre as três asserções enunciadas. Não só inspirada na obra de Agrippa, mas também nos ensaios especulativos de outros autores como Donna J. Haraway, Werner Herzog ou René Daumal, a presente exposição convida a olhar/pensar para além do entendimento doutrinário apresentando uma nova realidade onde o humano e o elemental se aproximam. Como ponto de partida Guilherme ensaia e especula sobre a tensão entre o desejo humano de replicar a natureza e os profundos mistérios que esta contém.

    Meticulosamente dispostas na sala, as delicadas esculturas trabalhadas em resina, atestam a crença de Agrippa de que as forças da natureza enceram em si próprias um poder sobrenatural, isto é, as sombras projetadas destas esculturas estendem-se muito para além dos seus limites físicos, evidenciando o insucesso da tentativa humana de replicar a essência do natural. A beleza e complexidade do natural impoem-se à mimetização.

    A par destas esculturas apresenta-se uma instalação vídeo onde é capturada a fluidez dos elementos líquidos. A água que desagua em cascata e as correntes que tecem intrincados padrões e texturas confirmam a natureza mutável do tangível — cenário ideário de um futuro onde a humanidade se dissolve sublimemente nos elementos. Esta água, em constante fluxo energético, representa símbolicamente a inerente fluidez da vida e a tentativa fútil de fixar o seu significado.

    A reiteração dá mote à exposição: a cópia de uma imagem; a gota que cai numa gavinha de musgo — um devaneio sobre a natureza fugaz da existência e sobre a multiplicidade de significados que podem derivar de um momento só. Susan Sontag em Contra Interpretações de 1964, afirma que “a interpretação é a vingança do intelecto sobre a arte”, propondo que cada um de nós deve resistir à tentação de impor a sua interpretação e, em vez disso, abraçar a ambiguidade e incerteza da sua própria existência.

    A exposição “(...) from gross bodies freed, divinely move” desafia a percorrer as complexidades da existência pós-humana e a reconciliar com o fulgor do desconhecido. À medida que nos increvemos neste espaço, permitamo- nos ser desafiados e inspirados pelo que está cá dentro, não descorando a ideia de que o significado não deve ser imposto ao mundo, mas sim encontrado na complexidade da experiência, quer seja em cenários especulativos patafísicos quer seja no momento presente.