João Francisco Vilhena
Lanzarote: A janela de Saramago

[08.11.2014 - 03.01.2015]
Galeria Câmara Escura

  • Uma ilha, mesmo não sendo deserta, é um bom sítio para falar, é como se estivesse a dizer-nos: Não há mais nada no mundo, aproveitem antes que este resto se acabe.

    Dentro da cratera esfarrapada de El Cuervo, sem darmos por isso, muitas coisas tornam-se insignificantes. Um vulcão apagado, silencioso, é uma lição de filosofia. José Saramago

    “Lanzarote - a janela de Saramago” é um diário/caderno de notas sobre o olhar sensorial e apaixonado do escritor, visto e filtrado pelo olhar de um fotógrafo que em 1998 esteve em Lanzarote para o retratar, e que 15 anos depois regressa para capturar novas imagens e sentir o que aquela terra, no meio do oceano, representou para o único prémio Nobel de Literatura da língua portuguesa.

    “Lanzarote a janela de Saramago”, é uma exposição/instalação visual e sonora, composta por fotografias a preto e branco e sépia interagindo com frases de José Saramago. A exposição conta ainda com uma instalação sonora em que ouvimos a voz de José Saramago, integrada numa partitura musical criada para a exposição pelos Cindy Kat.

Pedro Letria
Cut Short

Galeria Câmara Escura
20 setembro—1 novembro 2014

  • Cut Short é uma exposição que reúne fotografias e textos produzidos e coleccionados por Pedro Letria por altura de uma viagem à Faixa de Gaza em 2009. Tendo chegado ao território Palestiniano em Julho, seis meses depois do fim da operação militar Israelita Cast Lead, Letria foi recebido pela agência noticiosa Ramattan, que lhe facultou a sua agenda diária e uma mesa de trabalho na redacção. Ao longo da semana que se seguiu, Letria cobriu os acontecimentos que mereceram a atenção dos media locais, fotografando, entrevistando e escrevendo as suas impressões e reflexões num pequeno caderno de capa negra. Guardados desde então numa caixa arquivadora, as fotografias agora expostas são provas de trabalho, possivelmente pensadas para serem enviadas por correio. Os textos em itálico, por baixo das imagens, reproduzem o que Letria escreveu no verso de cada prova. Em baixo, estão incluídos textos retirados do caderno de capa negra e que correspondem aos eventos ou datas das fotografias. Os textos estão reproduzidos no original, em inglês, a língua em que Letria aprendeu a ler e a escrever. A justaposição destes três componentes em cada moldura, e a inclusão nesta exposição de outros artefactos encontrados na mesma caixa arquivadora, pretende alargar o contexto do que aconteceu e promover uma maior compreensão do que foi experimentado pelo autor. A leitura de todos os escritos e o seu cruzamento com as imagens aponta para um manifesto esforço documental ou até mesmo jornalístico por parte de Letria. O cumprimento de uma agenda noticiosa local; as múltiplas entrevistas, deslocações, encontros e anotações; os nomes, números e factos assentes indiciam um labor dedicado e atencioso ao ofício de repórter. No entanto, é visível nas reflexões escritas que o autor se questionava insistentemente sobre a validade e as consequências das suas acções e intenções. Em mais do que uma circunstância, assistimos à expressão de uma crescente descrença em relação aos mecanismos da imprensa e particularmente à legitimação do poder politico por parte desta. É igualmente notória a frustração que Letria sente em relação aos limites da fotografia. O título Cut Short (em português, fim prematuro) aponta para potenciais desperdiçados. Não se conhecem outros projectos com o mesmo enquadramento pelo mesmo autor.

Valter Ventura
Viagem ao Fim

[24.05.2014 - 26.07.2014]
Galeria Câmara Escura

  • Valter expõe um conjunto de fotografias a preto e branco feitas durante uma caminhada solitária de 870 km durante um mês.

Fernando Calhau, John Baldessari, Jorge Molder, Julião Sarmento, Matt Mullican e Michael Biberstein
Take five: To Michael Biberstein

[05.04.2014 - 10.05.2014]
Galeria Câmara Clara

  • Texto: João Silvério, Abril 2014

    No filme realizado por Fernando Lopes sobre a obra de Michael Biberstein intitulado ”O meu Amigo Mike ao Trabalho” deparamo-nos com o processo e o modo como Biberstein pintava. Neste documentário há um aparente desencontro entre a expectativa que o espectador inicialmente cria sobre uma viagem que atravesse várias obras do pintor e o trabalho que se desenvolve em torno de um único quadro. Ver o “Mike ao trabalho” é aproximarmo-nos da acção que se constrói entre pausas, recuos, os diversos passos preparatórios da tela para a pintura e a pintura propriamente dita enquanto acto e simultaneamente momento de reflexão e de pausa do olhar do autor. É estar tão próximo como se fosse possível conhecer os interstícios do seu pensamento e da sua intencionalidade. Mas sobretudo compreender que o seu olhar é a nossa condição temporal para integrar a espiritualidade que a sua obra nos transmite.

    Esta exposição intitulada “Take Five – To Michael Biberstein” reúne seis artistas que foram seus contemporâneos, John Baldessari, Fernando Calhau, Jorge Molder, Matt Mullican, Julião Sarmento e Lawrence Wiener. Seis elementos de uma geografia que se desenha entre a cumplicidade, a amizade na vida e na obra, as cidades que se tornaram ponto de encontro, as exposições em que participaram, e a música como uma linha de horizonte invisível, mas quase táctil. Traços comuns que aproximam este sexteto para quem o jazz tem marcado o ritmo das décadas em que todos estiveram presentes.

    Para Dave Brubeck, autor da música à qual foi resgatado o título da exposição, “Take Five”, foi também uma nova experiência a nível de composição e de interpretação no final da década de cinquenta do século passado. Traços comuns entre a música e as artes plásticas que se celebram em Torres Vedras, na Cooperativa de Comunicação e Cultura. Por outro lado, “Take Five” é uma expressão coloquial norte-americana que se pronuncia para se fazer um interregno, ou um intervalo. Um momento de atenção, ou uma pausa, para ver as obras desta exposição e o Mike Biberstein ao trabalho.

André Cepeda
Rien

[22.03.2014 - 10.05.2014]
Galeria Câmara Escura

  • O aspecto mais marcante das imagens que compõem a série Rien de André Cepeda é a sua frontal, taxativa e crua literalidade. Uma pedra suspensa no negro, uma parede com marcas do tempo e do mau trato, um fio eléctrico que atravessa um tecto, uma mulher nua que se expõe são isso mesmo. A expressão central aqui é “isso mesmo”.

    O que está nas imagens pode ser descrito, com bisturi, pode ser analisado como se num vidro de laboratório, pode ser sentido como uma estalada, mas sempre sob a égide de uma sensação imperiosa de que o que aqui está é isso mesmo, uma mulher ou uma parede, uma pedra ou um fio eléctrico.

    O caminho para aqui chegar tinha passado por diversas etapas, desde uma atenção cirúrgica aos restos urbanos, um olhar frontal sobre o que não merece senão uma visão de relance. Depois uma convivência sem distância com vidas que, também elas, só poderiam ser vistas de relance.

    A série Rien, no entanto, na conversão ao preto e branco, ganhou uma realidade quesó a fotografia pode conferir, sobretudo porque não se enredou em qualquer retórica poética sobre a potência do próprio preto e branco, nem se perdeu na criação de um discurso mais ou menos alegórico. A sua literalidade é o seu argumento, abrindo uma multiplicidade de possibilidades, frequentemente deceptivas para a análise – não há discurso que seriamente possa converter a imagem em metáfora de nada, nem de tristeza, nem de abandono, nem de cicatriz nem de nada.

    (...)Por vezes, quando olhamos para estas fotografias, somos confrontados com alguma memória do cinema de Pedro Costa, ou de Jean-Marie Straub. Porque as imagens são de um rigor formal equivalente e porque se atravessam perante nós, sem piedade. Mas ao contrário do cinema, no qual o dispositivo cinematográfico está sempre presente – e voluntariamente presente, nos casos citados -, nestas fotografias o dispositivo fotográfico desapareceu, tornou-se translúcido. Não pensamos que entre nós e o que está perante nós há um processo e um fotógrafo porque a exposição daqueles corpos e daquelas paredes, daqueles lugares e daquele sexo foram feitas para alí estarem, apontando-nos como os seus destinatários, sem mediação, directamente tácteis, tão disponíveis como uma coisa qualquer que sempre ali esteve, exposta, por vezes tão discreta como uma pequena greta numa parede, uma gotícula, uma prega na pele de um fruto que secou, a doçura de uma pedra. Como se entre nós e este mundo respirasse um hálito que pode ser sentido. Como se entre nós e as imagens não existisse nada.

    (excertos do texto Nada de Delfim Sardo)

Nanã Sousa Dias
A poente

[01.02.2014 - 08.03.2014]
Galeria Câmara Escura

  • Texto: Carlos M. S. Miguel (Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras)

    “São doze fotografias de grande formato, de um poente que reconhecemos, que fomos aprendendo a identificar ao longo da nossa vida e que temos necessidade de revisitar como se se tratasse de um amigo.

    Esta é a nossa linha do horizonte, tão igual e tão diferente de tantas outras, com a qual partilhamos os nossos sonhos, a nossa esperança, os nossos medos. Um horizonte que se prolonga na silhueta das imponentes arribas, por nós percorridas em tantas ocasiões e nas rochas que transportam a maresia que nos envolve e nos purifica.

    São doze fotografias a preto e branco, talvez mais pretas que brancas, onde se sente os múltiplos castanhos amarelados dos penedos como se vislumbram os muitos azuis que formam o infinito e tantos farrapos brancos anilados das nuvens que nos antecipam o amanhã e fixam o nosso olhar, nesta costa que é a “nossa costa”, entre Porto Novo e Assenta.

    São doze fotografias que o torriense Nanã Sousa Dias, com a sua sabedoria e o seu talento, oferece ao desfrute de cada um de nós, uma coleção que sendo nossa, por nós será partilhada com gente amiga que, conhecendo outros poentes, possam apreciar e sentir o nosso.

    Este é o nosso poente!”