Pedro Calapez
A Olho Nú

[23.10.2013 - 04.01.2014]
Galeria Câmara Clara

  • Da série "Naked Eye" (2012), escolheram-se 12 desenhos a tinta da china que revelam partes de uma história sem nexo, rectângulos que se sucedem numa hipotética e esquemática planificação visual de um inexistente guião. Personificam o rápido discorrer das ideias, o vertiginoso fluir do desenho em que o representado se estrutura à medida que as linhas negras escorrem no papel. O olho está nu pois não consegue encontrar protecção perante o visível.

    A série "pequenos corpos", 2012/2013 encara o suporte como algo de transformável. Esquecida a superfície plana as cores ondulam agora num suporte de limites sinuosos, deformações que parecem transportar para fora da parede a imensidão de cores que transportam. Trata-se de pinturas que manifestamente se transformam em objectos pois ocupam o espaço do espectador contrariando a leitura convencional do "quadro".

    "Conversation piece" e "frame" fazem parte dos trabalhos em que experimento as diferentes potencialidades de manipulação da imagem no computador mas também no ipad e no iphone, que se materializam através de impressão digital sobre papel ou outros materiais, em imagens únicas ou fragmentadas.

    Sobre o gesto poderei afirmar que o fragmento é o seu elemento catalisador, e como nos diz Bresson, o gesto poderá bem ser o elemento deslumbrante e esclarecedor que traz a luz interior à composição solidificando a multiplicidade de leituras, isto é, fixando o fazer e proporcionando a inter-relação com todos os outros fragmentos que constituem a totalidade da obra. E o fragmento, contendo em si o gesto estabelece o imprevisto caminho das imagens.

    Mas este gesto não é “gestual” mas sim elemento explicitador da diferença entre o espaço real e o espaço pictural experimentado pelo observador. Estes gestos são puros momentos de pintura e surgem como marcas que misturam a experiência estética com o fluir da imagem. O gesto é a física contrapartida da imagem, do representado, ampliando o conhecimento do espaço visual, e a apreensão do espaço existente entre os fragmentos

    O preenchimento da superfície do fragmento conduz à noção de acumulação, do peso da cor, visual mas igualmente físico na sobreposição das canadas de tinta. O peso da cor convoca igualmente o "detrás", o fundo dos fundos, o que se encontra entre o suporte e a superfície da pintura. No detrás do representado encontro uma leveza. Como se do interior do suporte as cores tivessem migrado para a superfície da pintura. Resta-nos um especial vazio, um vazio cheio da não presença das cores e das linhas. É nessa leveza que se define também o tempo da pintura, pois o seu espaço se revela num vazio, como o refere Maria Zambrano: vazio: onde não há nem peso nem resistência (distância a percorrer).

Augusto Alves da Silva
Book V2.1

[26.10.2013 - 04.01.2014]
Galeria Câmara Clara

  • (...) À pergunta “porquê mulheres?” respondo “porque sim”. Como fotografar? Mais complicado. Não queria trabalhar com modelos de agências ou revistas, pessoas que fizeram cursos de moda, que aprenderam como estar perante uma câmara, poses, maquilhagens e até capazes de me dizer como quereriam ser iluminadas. (...)

    Ao falar com as modelos, várias vezes surgia a expressão book, quando me referiam que no trabalho com outros fotógrafos fotografavam para o book. Tive a oportunidade de ver alguns desses books (as fotografias que a modelo utiliza para se promover), conjuntos de imagens muito diversas e sem nexo aparente, feitas em regime de “TPF” (tempo por fotos). Neste regime, a modelo não é paga e recebe fotografias que utiliza para os fins que quiser, em troca do tempo dispendido. No entanto, tem de pagar a quem a fotografa as fotografias que lhe são fornecidas e que constituem o seu book – processo este que me foi explicado, que eu desconhecia e que ainda hoje tenho alguma dificuldade em assimilar, não só porque alguns desses fotógrafos eram amadores de fim de semana, mas também pela indefinição relativamente ao uso das restantes imagens produzidas.

    Assim sendo, ironicamente, desde muito cedo o título desta série ficou definido como Book e por mais que eu dissesse que as fotografias se destinavam a uma exposição no museu de Serralves, foram poucas as modelos que reconheceram o nome do museu. Neste Book as modelos foram pagas pelo seu trabalho nas várias sessões realizadas. Apesar de, até hoje, nunca se ter vendido fotografia alguma desta série, comprometi-me a pagar-lhes uma percentagem da respectiva venda. O que já aconteceu com algumas pessoas que trabalharam comigo noutros projectos, nomeadamente no caso da obra intitulada Lau, hoje na Colecção Berardo.

    De entre os milhares de fotografias executadas já foi muito complexo escolher as 100 que apresentei em 2009. Ao longo do tempo apercebi-me que as 100 imagens poderiam ter sido outras, ou ter sido 200 em vez de 100. Book é a primeira série de fotografias que fiz que me parece não ter fim nem princípio e capaz de se alterar ao longo do tempo. Se fosse hoje rever todas as imagens feitas, seguramente haveriam muitas outras que quereria utilizar.

    Para esta exposição inaugural da Câmara Escura - Cooperativa de Comunicação e Cultura, reduzi o Book a apenas 13 das 100 fotografias originais, às quais juntei 2 fotografias realizadas e expostas em 2012 sob o título H e uma terceira fotografia muito recente (2013) na qual, pela primeira vez, foi possível coexistirem nudez e rosto. Seleccionei ainda uma outra imagem inédita, também de 2013, que, não estando impressa em papel, é uma das fotografias anexas ao Press Release, o que perfaz um total de 17 imagens.

    Por isso considerei que o título deveria fazer referência a este upgrade e, deste modo, surgiu o Book v2.1 que deixa em aberto outras tantas infinitas variações.

Rosário Tavares
Aqui Existe Uma Alma…

[07.09.2013 - 15.11.2013]
Galeria Câmara Clara

  • Curadoria: Celina Brás (4 de Maio. 2013)

    A existência de dois mundos. um visível, material e tangível e outro invisível, imaterial e intangível que se complementam e evidenciam uma essência perene, tem sido objecto de estudo da filosofia e da teologia e mistério inquestionável da vida.

    A fotografia é um instrumento de registo da memória. Embora convoque leituras do real, aqui são de natureza existencialista, sugerem uma discussão sobre a nossa relação com o mundo e convidam a estabelecer um encontro poético com a infinitude do tempo e com a transitoriedade das coisas.

    O conjunto de imagens, onde se revela a ausência de corpo. alude a um vazio transbordante, porque apela à nossa imaginação e é passível de narrativas intimistas onde o sublime, também, se manifesta.

    Na outra série, onde se esconde o rosto mas descobre o corpo, há uma instrumentalização identitária que serve o propósito de expressar a relação do eu com o imediato (aqui e agora). Assume-se como prova da existência mas adquire uma dimensão simbólica de cumplicidade dialética. porque promove uma diálogo filosófico com o outro conjunto.

    Rosário Tavares promove uma reflexão sobre aquilo que nos habita, que está inscrito na essência de cada um: o que invisível ao olhar é sentido pelo coração. Assim é também a experiência de beleza.

Miguel Palma
Enjoy Yourself: It’s Later Than You Think

[11.05.2013 - 22.06.2013]
Galeria Câmara Clara

  • Texto: Luís Farrolas

    A Cooperativa de Comunicação e Cultura – Centro de Cultura Contemporânea de Torres Vedras inaugura no dia 11 de maio, às 17h00 a exposição Enjoy yourself – It’s later than you think, de Miguel Palma.

    Miguel Palma expõe regularmente desde finais da década de 80 e a sua expressão materializa-se no desenho, escultura, instalação, livros de artista, performance ou multimédia. Em Enjoy yourself – It’s later than you think, o artista propõe uma visão panorâmica sobre alguns estudos, maquetas e desenhos, revelando um olhar privilegiado sobre os seus processos e modos de “fazer”.

    Através de um declarado fascínio pela engenharia e dispositivos tecnológicos, a sua obra explora um conjunto recorrente de temáticas, abordando questões como a velocidade, a evolução tecnológica, a ecologia, a imagem, o poder político ou a máquina. Modelando uma forte componente lúdica, muitas vezes recorrendo ao sentido de humor, os trabalhos de Miguel Palma procuram convocar o confronto directo entre a obra de arte e o horizonte de expectativas do observador, subvertendo uma interpretação imediata ou facilitista, impondo, sempre, uma reconfiguração da experiência. A exposição estará patente até dia 22 de junho no Centro de Cultura Contemporânea da Cooperativa de Comunicação e Cultura de Torres Vedras. Da Cidade. Ocupamos o espaço por consequência. Estamos ali. Imaginamos uma Utopia e a Cidade Perfeita. Projectamos jardins para os taludes de terra que sobram nas vias de acesso à Cidade e a realidade deixa-nos com hortas urbanas. Ocupamos o espaço por consequência e com Vontade. A Utopia não se projecta. A Utopia faz-se de sonhos de auto-subsistência, de memórias das nossas origens, das memórias dos nossos avós e dos nossos pais. Imaginamos a Cidade Perfeita, mas tal coisa é impossível. Por cada metro quadrado de rua, por cada metro quadrado de espaço público, a Cidade tem uma área muito maior que nunca se conhece,

    Restrita.

    No bloco de apartamentos, atrás dos portões do condomínio fechado, em todos os escritórios que existem logo a seguir ao segurança fardado sentado à secretária e nos inúmeros quintais de traseiras que não poderemos conhecer. A Cidade é principalmente constituída por espaços Restritos, privados. Ninguém conhece uma cidade. Só pode achar que a conhece. A Cidade cresce por consequência, um reflexo da cultura, cresce rápida e Brutal, imaginada como uma máquina eficaz da Utopia, feita para a vida rápida, cresce para o Homem Urbano - um componente dessa máquina.

André Sier
K + Uunniivveerrssee

[21.04.2013 - 27.05.2013]
Galeria Câmara Clara

  • k. + uunniivveerrssee reúne selecções das séries k. e uunniivveerrssee de André Sier. Ambientes computacionais dinâmicos, fixados em instalações, impressões, esculturas. Ambientes que exploram geração de espaços virtuais navegáveis infinitos e propõem modelos multimodais da criação do universo. Nestas séries, todas as peças são geradas através de algoritmos que correm no computador e produzem interações, objetos, impressões.

    "A série k. tem sido desenvolvida, em vários suportes, desde 2007, a partir do romance O Castelo (1926), de Franz Kafka, em que o protagonista é K., um agrimensor contratado por erro pelas autoridades do Conde Oeste-Oeste. A série iniciou-se com o ambiente jogável k. (2007)e é constituída pelas suas derivações: a instalação k.~ (2010), a instalação k.astelo (2010-11) e os resultados deste processo – as impressões .tga de screen stills (2009) e as esculturas .stl topográficas (2010-11). Para criar k., Sier programou um código-fonte com 5021 linhas de código java. A navegação possibilita a entrada do utilizador em 4,294,967,295 espaços distintos – onde apenas num se encontra o castelo do Conde Oeste-Oeste. Ao recolher quadrados – como que juntando informação de pixels, tal como K. faz nas diversas conversas com os aldeãos –, o utilizador muda de nível, tendo acesso a novos territórios onde se geram algoritmicamente edifícios, espirais, vazios e quadrados."

    in A nomeação da obra de arte: k. de André Sier texto por BYPASS para a exposição k.@ appleton square 2011

    [...] algumas noções a ter em conta quando vemos, ouvimos, sentimos, percebemos e interagimos com qualquer das peças que fazem parte de “uunniivveerrssee.net”: 1) o ambiente de perceção é multi-modal: espaço, objeto, som, imagem, interação, retroação, fantasma, conexão, rede, partilha, suspensão, intervalo, continuação, potencial. 2) “uunniivveerrssee.net” não é um mundo finito, mas uma cosmogonia de possibilidades, computacionalmente gerada sobre bases digitais com várias extensões (32-bits e 64-bits). Neste caso, as frases “fui ver a exposição do André”, ou “gostei das instalações do Sier”, são incompletas e descrevem apenas a memória de uma perceção muito incompleta e de duração mínima da realidade potencial inscrita nas obras de arte oferecidas, cuja apreensão exige, na realidade, o tempo aparentemente infinito dos jogos 3) as criaturas impressas e retiradas do mundo digital de possibilidades inscritas ou desencadeadas pela interação humano--máquina — um jogo, individual ou coletivo, aleatório ou construído, partilhado ou simplesmente cumulativo de possibilidades — são a prova percetiva, sensorial e física de uma emergência real, bem mais para cá, portanto, do que os universos meramente ficcionais ou simplesmente virtuais da pré-história da arte generativa e cognitiva em geral.

    in *Coisa mental, “seeds rather than forests”*, texto por António Cerveira Pinto no catálogo da exposição uunniivveerrssee.net @ Museu de São Roque, Lisboa, 2011

António Vieira, Luís Farrolas, Sérgio Domingos
URB(e)

[29.03.2013 - 13.04.2013]
Galeria Câmara Clara

  • Da Cidade.

    Ocupamos o espaço por consequência. Estamos ali. Imaginamos uma

    Utopia

    e a Cidade Perfeita. Projectamos jardins para os taludes de terra que sobram nas vias de acesso à Cidade e a realidade deixa-nos com hortas urbanas. Ocupamos o espaço por consequência e com Vontade. A Utopia não se projecta. A Utopia faz-se de sonhos de auto-subsistência, de memórias das nossas origens, das memórias dos nossos avós e dos nossos pais. Imaginamos a Cidade Perfeita, mas tal coisa é impossível. Por cada metro quadrado de rua, por cada metro quadrado de espaço público, a Cidade tem uma área muito maior que nunca se conhece,

    Restrita.

    No bloco de apartamentos, atrás dos portões do condomínio fechado, em todos os escritórios que existem logo a seguir ao segurança fardado sentado à secretária e nos inúmeros quintais de traseiras que não poderemos conhecer. A Cidade é principalmente constituída por espaços Restritos, privados. Ninguém conhece uma cidade. Só pode achar que a conhece. A Cidade cresce por consequência, um reflexo da cultura, cresce rápida e

    Brutal,

    imaginada como uma máquina eficaz da Utopia, feita para a vida rápida, cresce para o Homem Urbano - um componente dessa máquina.

Alberto Monteiro
À Fé

[24.03.2013 - 14.04.2013]
Galeria Câmara Clara