Patrícia Sobreiro
As Árvores

[11.2008]
Galeria Câmara Clara

  • Lembro-me de se pequena, e em todas as viagens de Julho, rumo ao Sul, ir colada à janela do carro do meu pai a observar os sobreiros, oliveiras e azinheiras, que abundam nas planícies alentejanas.

    Fiacava fascinada; em silêncio… E nesse silêncio imaginava formas antropomórficas incríveis: corpos que dançam, corpos em sofrimento, corpos de amantes, corpos animais, enfim, Vida.. Este observar é um fascínio permanente e não morreu com o fim da infância.

    ”As árvores são os braços que seguram o Céu”

    Esta frase partilhada tornou-se, desde esse dia, a semente desta exposição. Este conjunto de pinturas é assim uma exploração de técnicas em torno da essência e da forma da Árvore. É só isto, nada mais. As suas raízes, o tronco, os ramos, as folhas e também toda a poética que, por vezes lhe é inerente. A Árvore como leitmotiv. A Árvore como proposta de diferentes caminhos possíevis a percorrer…

Margarida Gouveia
Sem título

[20.09.2008 - 18.10.2008]
Galeria Câmara Clara

  • Sempre que observo esta série de imagens ocorrem-me estas palavras: um mundo a passar. Figuras pequenas que experimentam o espaço como se de uma maqueta se tratasse.

    Tenho questionado o lado físico da imagem. As suas possibilidades. Neste trabalho as formas não existem até alguém ter tempo para elas. Ao longe são só manchas. Jogos de escala que implicam a proximidade ou o distanciamento do observador e a moderação entre o geral e o pormenor da imagem. (...)

    Num fundo constante e preciso da imagem, desencadeiam-se gestos de carácter idiossincrático. Aproximar. Simplificar. Climatizar. Manter, Experimentar. Recriar. Ironizar. Conter. Recortar. Ritmar. Habitar. Ampliar. Desconcertar. Reduzir. Abrir. Esconder. Desmontar. A PERIPÉCIAS DO ESPAÇO.

Carla Cabanas
Histórias

[20.09.2008 - 18.10.2008]
Galeria Câmara Clara

  • Palavras e imagens. São tudo o que temos para provar que existimos alguma vez. (…)

    As nossas primeiras memórias são nublosas, desfocadas. Mas é com essas recordações remotas que inventamos o prefácio da nossa história particular. (…)

    A série histórias de Carla Cabanas combina esta oscilação entre a realidade e a ficção. Palavras e imagens. As palavras, apesar de pertencerem a excertos concretos de infâncias, contam histórias que o tempo tornou incertas. As imagens, não apresentam aqui a sua eficácia científica, óptica, mecânica que a câmara (outra “caixa de memórias”) foi desenhada para registar. Palavras e imagens. Somos convidados a aproximar-nos para ler as primeiras mas a afastar-nos para ver as segundas. Perpetuamos este ciclo do que é lembrado e do que é esquecido.

Luís Farrolas
Ein Moment Bitte

[06.06.2008 - 11.07.2008]
Galeria Câmara Clara

  • Texto: Susana Rodriguez, Junho 2008

    Esta exposição é um trabalho sobre o tempo, e sobre o tempo que se pode roubar ao tempo. O momento no qual o fotógrafo se permite capturas e registar a suspensão da vida em movimento com o disparo de um obturador.

    (…) É também imobilidade. O fotógrafo para e olha, e assim parado permite que o movimento continue, sem que seja parte dele. As palavras manuscritas e por vezes até descuidadas junto de cada impressão nesta exposição podem ajudar a clarificar esse momento. Curiosamente, parece-me que o uso conjunto destas formas canónicas de documentar — a fotografia e a escrita — encaminha as duas formas para uma anulação mútua. Nesta perspectiva, o trabalho ganha então uma nova dimensão quando começa a contrariar a noção largamente aceite de que a fotografia é a verde.

    (…) Todas aquelas snapshots brilhantes de viagem fotografadas a preto e branco, mostrando uma deslocação física e privadas das legendas e números típicos, estão espelhadas pelas paredes de uma forma que não é aparente; O tema do ein moment bitte também espelha essa deslocação aleatória.

    (…) O ein moment bitte é, no final, memória. (…) mas também sobre o desejo de guardar memória.

Jorge Santos
Autumn House

[15.03.2008 - 15.04.2008]
Galeria Câmara Clara

  • Autumn House começou por ser um livro composto por imagens recortadas de revistas e por fotografias tiradas pelo artista. Após terminar de preencher todas as páginas do livro, Jorge Santos sentiu que o projecto ainda estava incompleto. Decide então efectuar uma versão em diapositivos e expô-la em formato de dupla projecção.

    Tal como o título o indicia, Autumn House centra-se em torno da ideia da casa, ou pelo menos uma ideia construída do que uma casa deveria ser. A sequência de imagens projectadas leva o observador a deambular por um espaço, a percorrê-lo infinitamente.

    Esta é uma obra sobre a memória, sobre a sua visualização e ficção. As imagens recolhidas pelo artista, as vivências que simbolizam, firmam-se numa memória simultaneamente colectiva e individual.

    Este cariz autobiográfico é condensado no aparecimento esporádico da silhueta do próprio artista. A dimensão de memória colectiva emerge quando Jorge Santos suscita, no espectador, um movimento comparativo entre a sua casa e a casa ficcionada da obra.