Francisco Lemos e Manuela Ramalho
Cerâmica Artesanal

[13.12.1986 - 24.12.1986]
Galeria Nova

  • (…) Será interessante ver como, a uma técnica tradicional de raizes vincadamente populares é possível articular uma visão “urbana”, culturalmente enraizada numa perspectiva citadina para um público minimamente informado.

    O trabalho de Francisco Lemos vem, felizmente, sendo capaz de desbloquear certas situações, quer a nível interno, com a extraordinária experiência desenvolvida com os jovens deficientes da A.P.E.C.I., que com o reconhecimento internacional do Centro Italiano Promozione Economica Mondiale, que premiou a “Agrilemos” com o European Work Oscar 1986.

    A Cooperativa de Comunicação e Cultura e a Galeria Nova esperam muito sinceramente poder criar o envolvimento adequado para que o público de Torres Vedras possa aperceber-se, fruir e usufruir da qualidade muito própria dos trabalhos da “Agrilemos”.

    Este é, no nosso entender, mais um passo num caminho que queremos comum, com a cidade, com todos aqueles para quem a sensibilidade não é um valor esquecido — com os nossos amigos.

    É também um passo num tempo próprio que, como dizemos no Catálogo da Exposição inaugural desta Galeria, urge desenvolver: o do exercício da cultura, como acto de prazer e prazer comprometido.

    Esperamos, francamente, que as peças de cerâmica do Francisco Lemos e da Manuela Ramalho mão cheguem para as encomendas!

Jorge Vieira
Escultura

[13.12.1986 - 24.12.1986]
Galeria Nova

  • Texto: Manuel Gusmão, Outubro 1981

    Quem aqui fala da Escultura de Jorge Vieira não é critíco de Artes Plásticas. No que agora interessa, deve ser tido por um homem de coisas literárias, entretanto interessado pela diversidade dos modos de representação— re/produção da multiforme realidade nossa e do mundo.

    A presença do gesto manual, a força e a delicadeza, a sensualidade libertada e o trabalho que a torna praticamente rigorosa; tudo isto dá a sensação de alegria terrestre.

    A realização destas esculturas nestas dimensões gera por sua vez uma sensação de familiaridade com um imaginário entretanto “estranho”, o que significa que os nossos sentidos são levados a despertar, a aguçarem-se e a enriquecerem-se na visão destes objectos.

    E por isso, esta escultura, como aliás toda a arte viva, proporciona o prazer que vem de, pela obra de outrém, os nossos sentidos vibrarem, e a nossa imaginação se pôr em movimento.

Álvaro
Fotografia

[06.1986 - 07.1986]
Galeria Nova

  • 24 fotografias a cores + 18 a preto e branco

    A história, os rumos e as Escolas que a fotografia possa ter, são-me indiferentes. Os conceitos a que a arte está sujeita, ignoro-os. Os interesses individuais ou de grupo que geram conceitos à medida necessária para conter e qualificar as produções, repudio-os.

    a pobreza de meios que soterra as vontades de participar e isola em pedestais de mágoa os furúnculos que se alimentam de silêncios, condeno-a.

    Muitos gostariam mas não podem dedicar-se à fotografia. Alguns dedicam-se e não expõem. Há quem mostre singularmente. Mostrar com dignidade não é fácil. A arrogar-se de apresentações luxuosas de luxuosos temas, poucos são.

    Fruto de algumas contingências, venho, sem nome que me pese e sem rótulos que me aliviem, mostrar o meu jeito próprio de reter as formas e a cor que topo no meu percurso dos dias.

    Tudo está na rua, é visto e manifesta-se a quem se rende e colhe, traz e dá a quem gostar de ver. E, por ser diferente coisa o que todos vêm, espero que outros olhos, ao ver agora, me possam devolver a identidade da imagem que não soube ou quis trazer. Grata compensação seria. Porque o pão, esse não o venho aqui buscar, nem aqui desespero o perder.

Jaime Silva
Pintura

[25.04.1986 - 04.05.1986]
Galeria Nova

  • Texto: Cristina de Azevedo Tavares

    Marcando um lugar diferente na arte contemporânea nacional, a obra de Jaime Silva é uma pintura como ele próprio a define “feita em profundidade”, ou seja, expressão da plenitude de uma escrita plástica, que surge aos olhos de quem a vê, como obra autêntica. Porque este discurso plástico valorativamente trabalhado entre uma figuração lírica e um expressionismo abstracto, contemplou desde início o que de mais puro e intacto havia no imaginário do pintor, ou seja, a violência ancestral de quem viver nas margens abruptas do Douro!

João Serrano
Pintura

[17.05.1986 - 24.05.1986]
Galeria Nova

  • Entre a acção e a reflexão.

    Pelo menos um dos estereótipos abandonados pelas ciências naturais, é o conceito de que a linguagem é um exclusivo do género humano é o carácter de permanente ambiguidade da linguagem.

    Abelhas, formigas e elefantes trocam informações através de sinais, cuja interpretação é inequívoca. No contacto humano, pode dizer-se que não existe informação pura, embora por outro lado, todos os fenómenos possam ser interpretados no consciente, como informação. O nosso consciente, a auto consciência, a reflexão, a memória, deformam o significado de tudo o que nos rodeia e especialmente do que os outros fazem ou fizeram.

    Uma constante inerente ao ângulo de visão acima escolhido sobre o tema da linguagem, é o dilema existente entre determinismo e vontade própria. Será que o nosso consciente produz — contra a nossa vontade e interesse — novas respostas a novas perguntas, ou será a nossa conduta que, em última instância é susceptível de ser interpretada como uma interminável e variada repetição de uma busca desesperada da Matriz, o “Paradise Lost”? Receio, (espero?), que o dilema se nos apresente como os dois pontos de fuga do horizonte único da nossa perspectiva.

    A resolução deste dilema pressupõe a explosão que resulta da fusão entre consciência e realidade.

    No caso do João Serrano, trata-se do caminho de volta, regressando da linguagem ao gesto, do resto à acção. Mas a linguagem, a palavra, a letra é renitente. A noção, o significado e o desenho não se deixam depor sem resistência.

    O que se deita pela porta da frente volta a entrar sem pré-aviso pela das traseiras!

    E depois esse medo! O medo de se ser parcial ou totalmente incompreendido.

    Se fosse preciso encontrar um título que exprimisse um tema comum à obra do João, este podia ser: “A soma dos mal-entendidos”.

    Mas na sua repetição, ele leva a cabo um claro desenvolvimento. Nas suas últimas telas torna-se cada vez mais visível que no seu processo, nesse vai-vem da porta da frente à das traseiras, ele se sente casa vez menos embraçado pelos obstáculos desse caminho.

    Ao mesmo tempo espero — por ele e por nós — que não lhe faltem esses obstáculos. Ele próprio não se faz rogado de inventar alguns, mesmo que isso lhe custe, de vez em quando um bate-cu, antes de se render à Matriz.

Rui Oliveira
Cartas do Funchal

[15.02.1986 - 28.02.1986]
Galeria Nova

  • Nos primeiros meses pintei pouco, apenas alguns desenhos azuis coloridos com lápis-de-cor.

    O silêncio e o isolamento que não queria evitar obrigavam-me a viver com as cartas. Compreendera que a ilha encantada não é um simulacro, que a ilha é, como a vida, um espaço de aventura, que todas as formas são elípticas, que todas as elipses são como a vida e a ilha, possibilidades de comunicação plena.

    Quase todos os dias chegava, cartas de Lisboa, mas quando havia atrasos, mesmo curtos, sentia uma grande expectativa. Em Maio, após um desses atrasos, comecei a guardar os rasgões de sobresvritos para que nada de cada carta se perdesse.