Carlos Miguel
Cascos

[17.01.2017 - 17.01.2018 ]
Galeria Câmara Escura

  • Para muitos este é um conjunto de fotografias “esquisitas”, havendo sempre a esperança de alguns as considerarem “surpreendentes”.

    São fotos que vivem da luz, como toda e qualquer fotografia, em que a cor e a sua força sensitiva, o tempo enquanto fazedor de texturas e os grafismos mais ou menos perceptíveis dominam o nosso olhar e a nossa atenção.

    Numa primeira abordagem, são fotografias que não remetem para um sítio ou para uma pessoa mas, naturalmente, têm uma história, como tudo na vida.

    Uma história que começa no gosto pelas artes plásticas e na especial paixão pelas representações abstratas, pelas “rugas”, pelas “peles”, pelos “riscos” que o tempo sempre traz.

    Ninguém fica indiferente à tranquilidade sensitiva e ao aveludado de uma tela de Rothko, à vivacidade monocromática de ngelo de Sousa, à pintura matérica de Tàpies, aos grafismos de António Sena e de João Vieira, assim como à força da pincelada larga e vigorosa de Charrua.

    Estas fotos, esta exposição, começam aqui: na pintura e naquilo que alguns convencionaram chamar “Impressionismos Abstractos”, que tanto aprecio.

    Começando aqui, sendo esta a sua história, esta exposição tem um propósito claro e despretensioso: demonstrar que o “abstracto” está no nosso quotidiano e é tão real como os objectos que nos preenchem todos os dias, bastando olhar para eles com outra atenção.

    Como se ilustra na foto que introduz esta exposição e que documenta o trabalho do homem sobre a sua obra, todas as fotos retratam cascos de barcos, com muitas marés e muitas vidas, com múltiplas películas que as idas e vindas vão sobrepondo e muitos traços de uma outra caligrafia. Uma história feita de tinta, de luz, de sombra e de muito mar com salpicos de sal.

    Camadas, rasgos, raspões, escorrimentos, madeira, fibra, metal, em todos temos a mão do homem e a força da natureza como construtores de uma realidade abstractizante.

    Sem qualquer artifício ou truque, estas fotos foram obtidas encostando a objectiva a barcos pousados em terra, em Portugal, em Cabo Verde, no Brasil e em Timor, lugares com uma língua em comum, cada um com o seu sotaque, onde verificamos que o dito “abstracto” não é mais do que a realidade que um olhar atento sempre descobre.

Sérgio Aires
Singular do plural

[09.09.2017 - 14.10.2017]
Galeria Câmara Escura

  • Gente como toda a gente

    "Quando um punhado de “homens bons” redigiram e propuseram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, encimaram-na, no seu artigo primeiro, com uma determinação óbvia e aparentemente indiscutível aos olhos de qualquer ser racional:

    “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”

    Esta liberdade, igualdade e fraternidade, que já vem de trás, benzida com muito sangue, ao ser proposta e proclamada em 1948, revela a necessidade do Mundo reafirmar, reclamar e consolidar tais valores.

    Embora se trate de uma afirmação generalista, que não nasce para visar ou proteger especificamente os ciganos, ela olha e inspira-se no passado deste povo, como também de outros povos igualmente atormentados.

    Não são muitos os acasos da vida e se a Declaração tem trinta artigos, não é por acaso que este mandamento é o primeiro, estando à frente de todos os outros.

    Volvidos quase setenta anos, ainda temos necessidade de avivar o que determina o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

    É uma necessidade que não se cinge só aos Roma, é verdade, mas, em Portugal, as circunstâncias da vida e de futuro desta comunidade obriga a um maior cuidado de cidadania.

    O “Singular do Plural” responde a esta necessidade de reafirmação de direitos fundamentais e aos cuidados de cidadania a que todos estamos obrigados.

    Com estes retratos, como em todo e qualquer retrato, há a figura e há a pessoa, na certeza que cada pessoa é uma figura, com traços, com expressões, com saberes, com experiências, com expectativas, com objetivos, com uma história.

    São gente como toda a gente. Este é o grande objetivo da exposição: que descubramos que o nosso semelhante é semelhante a nós.

    Dar a cara, participar nesta iniciativa, colaborar com a Rede Europeia Anti Pobreza, com o Sérgio Aires, com a Maria José Vicente e com o Padre Jardim, foi um privilégio para mim, consciente de que sou um cigano privilegiado, não pelo que construí, mas pela educação que os meus pais me proporcionaram.

    Disfrutem da exposição e lembrem-se que, por detrás de cada retrato, há uma história, há uma vida, há uma pessoa."

Vasco Barata
Double Exposure Halo

[20.04.2017 - 31.07.2017]
Galeria Câmara Escura

  • Vasco Barata tem vindo a desenvolver um corpo de trabalho intimamente ligado ao que habitualmente designamos por imagem. A especificidade desta prática define-se, num campo tão largado e contraditório como o da própria definição do seu sujeito, pela constante procura de imagens e, mais especificamente, na arte contemporânea, por uma forma de relação ou diálogo entre iguais: imagem e indivíduo.

    Desde a antiga Grécia até aos dias de hoje o fenómeno imagético tem-se constituído como um campo fértil de especulações e problematização. Como lidar com um “sonho acordado”? Um “dejá vu”? Uma aparição? Um anúncio publicitário? Uma fotografia? Um fantasma? A imaginação?

    Somos habitantes de um mundo de imagens que nos escapa e, a cada dia, a realidade prova-nos a incapacidade geral para lidarmos com a imagem de uma forma equilibrada (milhões de selfies diárias são um sintoma agudo da relação intensa, e certamente desigual, que mantemos com essa singularidade).

    Para nos movermos entre imagens ser-nos-á sempre exigido um léxico particular. A técnica e tecnologia foram certamente um avanço: “exposição”, “profundidade de campo”, “revelação”, “aberração cromática”, são apenas alguns exemplos de conceitos que operam a uma distância próxima da imagem. Antes destes, outros foram também utilizados com a função de nos guiar …

    “Fantasma”, “sonho”, “espelho”, “espectro” são palavras pré-tecnologia, que transportam um modo de conhecimento e relação particular com as imagens e que, caíndo em desuso, se perderá com elas o conhecimento específico que contêm.

    Não será, por isso, coincidência a pequena publicação produzida e editada pela CCCTV no âmbito desta exposição que, como um pequeno guia ou manual de instruções, nos apresenta uma multiplicidade de textos ou palavras particulares em torno de duas ideias – Fantasmas e Simetria – acompanhados pelas imagens expostas na galeria.

    No âmbito desta exposição, Vasco Barata recorre a algumas destas nomeações como forma de as (re)activar/ relembrar, bem como às suas capacidades específicas de entendimento e relação com as imagens. Em Double Exposure Halo encontramo-nos, portanto, na presença de imagens que convocam palavras, que convocam modos de ver particulares.

Pedro Bento
Viajarmos juntos

[21.03.2017 - 15.04.2017]
Galeria Câmara Clara

  • O Pedro descobriu o seu interesse pelo desenho só após ter começado a escrever. Até aí, recusava atividades gráficas. Quando começa a escrever, descobre, de certo modo, o poder do lápis.

    Sendo os seus interesses obsessivos, o que se enquadra nos seus padrões de comportamento, o Pedro desenvolve-os e recria-os. É neste contexto que surge a sua contínua exploração das potencialidades das construções de lego e a sua curiosidade pelos efeitos visuais que a transposição dessas formas tridimensionais para o desenho em papel poderia proporcionar.

    Como perfeito autodidacta que é, as fontes de inspiração para as suas criações plásticas são várias e diversas: desde um pequeno manual de uma caixa de legos básica a meios de comunicação e informação,tais como revistas, tv e net. As aulas de desenho e pintura, que tem há cerca de um ano, vieram aguçar o seu espírito crítico e a vontade de evoluir para construções mais elaboradas, como as que aqui se expõem, de grandes bancadas de corridas de automóveis e outras. Ainda que persista na repetição, por vezes exaustiva, de motivos pictóricos, vai variando dentro do mesmo tema e mesmo introduzindo novos temas e centros de interesse nos seus desenhos, de tempos a tempos.

    O percurso pelas artes tornou-se numa busca decisiva para o desenvolvimento pessoal do Pedro, fazendo com que começasse a abraçar noções como a da partilha e do reconhecimento ao aceitar expor os seus trabalhos. Esta prova de confiança que o Pedro nos deu, permite uma partilha, uma interação que, não só para o Pedro, é muito importante para todos nós e para a construção de uma comunidade que pretendemos inclusiva.

    Assinalamos, no seu percurso de artista, a participação em exposições coletivas da ANACED ena exposição “Olhares de Dentro”, na CCC de Torres Vedras.

25 de Abril: Estações
Acervo Cooperativa de Comunicação e Cultura

[25.04.2017 - 06.04.2017]
Galeria Câmara Clara

Vanessa Éffe
Enquanto Houver Um Folião na Rua...

[03.03.2017 - 28.03.2017]
Galeria Câmara Clara

  • Texto: Mário Verino Rosado

    Enquanto houver um folião na rua...

    É com o maior prazer que escrevo a nota introdutória desta exposição da Vanessa Éffe, não só pelo facto do Carnaval de Torres Vedras me ter um grande significado pessoal, mas essencialmente pela amizade que tenho pela autora destas ilustrações, que não nasceu torreense, mas já é tão ou mais desta terra do que tantos outros que aqui vieram nascer.

    Sobre o Carnaval em si não há muito a dizer, senão reforçar o papel agregador que possui enquanto a maior manifestação cultural e comunitária de Torres Vedras - essa força centrípeta que aproxima as pessoas e as faz acreditar que, pelo menos, enquanto o Carnaval dura, todos somos um e o mesmo corpo: o corpo do folião.

    Mais do que mera folia, o Carnaval é um conjunto de preceitos, um conjunto de detalhes. Se para o forasteiro, à primeira vista, podem parecer enigmáticos, para os locais e para os genuínos apreciadores desta festa, cada uma destas convenções significa algo de profundamente enraizado na identidade cultural e simbólica desta cidade (por esta altura, mais temida que a aldeia dos gauleses no Astérix...).

    Este conjunto de ilustrações, além de nos fazer recordar algumas das figuras mais emblemáticas do nosso Carnaval, impõe ao observador algumas propostas micro narrativas. Em cada imagem, insinua-se uma história, uma daquelas histórias insólitas e rocambolescas que acontecem no Carnaval e ficam nesse mesmo Carnaval, como um segredo bem guardado.

    No traço da Vanessa Éffe e neste conjunto de obras, fica muito bem representado aquele que é tido como o mais português de todos os Carnavais. Nestas ilustrações desenha-se, com o humor que é sempre tão característico da autora, uma visão muito pessoal daquele Carnaval que tem o poder viral de contagiar toda a gente, fazendo-nos cair numa espécie de vertigem, bem para dentro desse magma convulso de corpos em agitação e folia...

    “Enquanto houver um folião na rua, o Carnaval continua.” - diz-se por aí e quem somos nós para não acreditar...?

Flâneur—New Urban Narratives
Cidade Imaginária

[31.04.2017 - 31.09.2017]
Galeria Câmara Clara

  • Selecção de fotografias dos 28 fotógrafos participantes no Projecto Flâneur. Mansfield, Londres, Hamburgo, Turim, Milão, Roma, Lisboa, Riga, Dublin, Lodz, Kaunas, Olot, Derby e Torres Vedras foram as cidades “trabalhadas” pelos fotógrafos em residência artística. Uma abordagem multifacetada da europa urbana, moldada pela experiência de cada um dos artistas. Nesta instalação, existiu uma clara intenção em “misturar” os resultados das várias residências artísticas, por forma a realçar a diversidade cultural e simultaneamente a aleatoriedade do tecido urbano europeu, propondo assim uma cidade imaginária, resultante da junção de vários pontos de vista individuais sobre cada uma das cidades.

    Flâneur - New Urban Narratives é um projecto em rede, criado pela Procur.arte e financiado pela UNESCO e pela Comissão Europeia. Configurado através de uma parceria internacional que envolve 20 entidades de 11 países, fundamenta-se num princípio de intervenção artística no espaço público, tendo por base a fotografia contemporânea. O Projecto produz uma panorâmica transversal e única sobre as dinâmicas sociais que constituem o território urbano. A especificidade deste retrato reside no facto de ser produzido por um grupo alargado e diversificado de criadores que, a partir de uma temática comum, lançam um olhar renovado sobre a pluralidade de realidades que compõem o espaço urbano, olhar esse que é partilhado com o público, convidado a “flanar” pelas suas cidades, redescobrindo-as.